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Não importa

À luz de uma luminária pendente de mal gosto uns dedos que avançavam e retrocediam na mesa de anseios, curtidos do peso das caixas e do impulso no guidão, ligeiramente tortos nos nós, o polegar de formato espatulado. A hora da noite que não importa, os tacos cutucando bolas enumeradas no tapete verde e a quem importa perder o tempo se revezando nos sofás, a quem importa o céu, se tem estrelas ou não naquela hora. Todo passo era longe, um espaço era muito, de curto em curto incendiando fósforos. O poste que nos assistia girar e ceder, porque ah, era tarde e a quem importa quão tarde mais podia ser, os muros caiados encobertando o caminho dos dedos ligeiramente tortos, a base das mãos espatuladas, a boca faminta. Quem mora sob a luz do poste, quem dorme, quem morre, a quem importa, o caminho longo até o leito, o líquido por onde escorrega e se finda o desejo. A quem importa?


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