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A delicadeza do fascismo

Depois de deixar a filhinha na escola, decidi cortar meu cabelo. Em um prédio quase ao lado do salão, vi na portaria escura dois filodendros nas laterais da porta interna, já tão crescidos e antigos que alcançavam o topo. Alguém gentilmente os encaminhou na direção um do outro e os entrelaçou com cuidado, emoldurando a porta bege sem graça com um portal verde cheio de charme. Parei para olhar e o zelador veio falar comigo. Disse que foi ele mesmo quem fez e, com ar grave, apontou as moitas podadas em formato circular em grandes vasos na frente do prédio, cujas correntes pesadas entravam na terra prendendo as raízes. "As pessoas vêm aqui e picham, bebem e quebram a garrafa na planta, jogam bebida na terra, roubam os vasos. É preciso fazer isso daí, senão... As flores dali também. Pessoal aperta na mão, arranca. Não tem educação. As pessoas reclamam dos políticos, mas vêm aí, param em guia rebaixada, tratam mal o porteiro, gritam de madrugada... Sabe por quê isso? Vou te dizer, você pode até não concordar comigo. Mas isso é por causa da miscigenação. Não tô falando de cor não, tô falando de cultura. Hitler estava 90% errado, 100 não tava não."

Refiz a franja.

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